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Opinião 

Na era da solidão:

Como o auto-reconhecimento em personagens causa empatia

Uma pesquisa rápida no Google e o Dicionário Oxford Languages define solidão da seguinte forma: 1. Estado de quem se acha ou sente desacompanhado ou só; isolamento e 2. Caráter dos locais ermos, solitários.

Eliezer Kailer

                  Vivemos na era da conexão, temos a facilidade de falar com quem se encontra no outro hemisfério em tempo real, mas será que não estamos acompanhados pelo antônimo da solidão? O psicólogo norte-americano Jonathan Haidt fez um estudo sobre a relação entre infância e a utilização da internet em seu livro Geração Ansiosa (2024). Os dados referentes à privação social são alarmantes, pois comparam o tempo que as diferentes idades passam com seus amigos e como esses números vão caindo gradualmente. Entre 2003 e 2019 a faixa etária de 15 a 24 anos caiu de 160 minutos diários na companhia de amigos para pouco mais de 60 minutos.

                  A questão é: fomos nós mesmos que buscamos essa solidão? Na animação da Pixar Animation, Wall-E (2008) do diretor Andrew Stanton, percebemos uma Terra vazia e etérea, onde um pequeno robô faz o trabalho de limpar o planeta destruído pelo consumismo exacerbado da própria humanidade. Apesar da aparência desértica, o pequeno robô é acompanhado por uma pequena barata – uma vez que esses insetos conseguiriam sobreviver a condições extremas ou à exposição a radiação – e vive sua monótona “vida” até a chegada de EVA, a robô cuja missão é pesquisar e confirmar a possibilidade de o planeta ser habitado novamente por humanos. Após EVA confirmar a possibilidade de vida novamente na Terra, ela se desliga. Wall-E, percebendo a situação, evita ao máximo que ela seja levada por uma nave e acaba se aventurando em uma jornada para não deixá-la sozinha e nem ficar novamente sozinho.

                  Dessa forma, a solidão pode ser uma condição e não de fato uma opção.

Uma pesquisa promovida entre a empresa de tecnologia Meta e o instituto de pesquisa Gallup em 2023 concluiu que quase uma a cada quatro pessoas se sente sozinha ou solitária em algum nível. 27% das pessoas relataram sentir algum tipo de solidão e outras 24% descreveram se sentir muito solitárias. A faixa etária que relata se sentir mais sozinha se encontra entre 19 e 29 anos de idade. A pesquisa feita em mais de 142 países ainda nos mostra que homens e mulheres são igualmente solitários, mostrando porcentagens idênticas. Podemos ser otimistas e pensar que a pesquisa conclui que 49% das pessoas do mundo não sentem nenhum tipo de solidão, porém os outros 51% acabam por se dividir entre pessoas solitárias ou muito solitárias.

                   Robot Dreams (2024) ou Meu amigo Robô é um filme dirigido pelo cineasta espanhol Pablo Berger e aborda de maneira tragicômica a solidão. Assim como Wall-E, esse filme não tem diálogo entre os personagens e é conduzido somente pelas expressões nos rostos apresentados na animação. No contexto da Nova Iorque da década de 1980, um cachorro vive solitário a observar o mundo, quando assiste a um comercial com a seguinte pergunta: você se sente solitário? Ligue agora! Após concluir seu pedido, ele recebe em sua casa um robô o qual será seu amigo e companheiro para enfrentar a solidão.

                   O filme mostra a crescente amizade entre os dois personagens que, por conta de um infortúnio, acabam ficando distantes e o protagonista – se é que podemos categorizar o cachorrinho dessa forma – acaba por estar solitário novamente. Com uma abordagem simples e direta, com traços coloridos e expressões que dizem mais do que palavras, o filme aborda a constante busca por não se sentir só. Com uma avaliação de 8.9 de 10 pontos na plataforma de streaming Mubi e uma aceitação positiva de 97% no site Rotten Tomatoes, Robot Dreams nos prende do início ao fim e causa a sensação de ser um pouco de cada um de seus personagens. Mas será que esse sentimento não é por que fundo também nos sentimos sozinhos?

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