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Crônica

Quando o tempo parou

Chelsea Karina de Brito

17 de setembro, 2024

 

             Despediu-se com um abraço, a mãe o acompanhou até a porta e, depois de fechada, seguiu olhando na janela até a esquina, onde a sua figura saía do ponto de vista. Era a  maneira da mulher demonstrar o amor e o cuidado pelo filho, que sujeito de sorte! A música alta nos fones de ouvido impedia que ele escutasse o barulho da movimentação da cidade que começava a despertar.
             Os pés tropeçavam pela sinuosidade das ruas que, na maioria das vezes, estavam com nuances e degraus indesejados. Quando o sol por fim apareceu, o ar trouxe o calor da maresia e mesmo com a areia espalhada por todos os lugares, a manhã da terça-feira estava tranquila e agradável. O barulho do estômago lhe fez parar em um estabelecimento e, recebido com um sorriso, agradeceu pelo café da manhã e, assim, seguiu para mais um dia de trabalho.
              Distraído com a rotina, não percebeu que uma sombra lhe rondava. Com o passar das horas, enviava mensagens à mãe, queria notícias sobre o pai, que há algumas semanas estava com dificuldades para respirar. A idade avançada e os pulmões comprometidos lhe puseram em alerta, precisava de notícias sempre que pudesse. A mãe o tranquilizou, disse que se houvesse uma emergência, mandaria uma mensagem. E a sombra permanecia ao seu lado.
              Às 15h30, recebeu o alerta. No mesmo momento, verificou o dispositivo, não era um alerta da mãe, não era um alerta comum. Segundos depois, o estrondo veio, sentiu a pele queimar, o barulho ensurdecedor uniu-se à escuridão e, então, silêncio, ele encontrou a  sombra.

18 de setembro, 2024

Os olhos, carregados de lágrimas, não saíam da esquina. O amargo da tristeza, misturava-se com a dor e a angústia. As mãos tremiam, mas o corpo fraco insistia em permanecer na janela. A voz na televisão, baixa, mas presente, anunciava: “O número de pessoas mortas no Líbano subiu para 12. O ataque utilizando pagers não foi o único, novas explosões foram registradas no Líbano nesta quarta-feira (18), e os dispositivos que detonaram eram walkie-talkies, disse uma fonte de  segurança”.

Crônica inspirada no filme Se algo acontecer, te amo…(2020), vencedor do Oscar (2021) na categoria melhor curta-metragem de animação.

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