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Opinião 

Cicatrizes de Guarapuava

Luis Emanuel Fontana Calixto

                 Em Guarapuava, município do Paraná, a Praça 9 de Dezembro fica no centro da cidade, em frente à Catedral Nossa Senhora de Belém e ao lado do Museu Visconde de Guarapuava. Nomeado em homenagem à figura de Antônio de Sá Camargo, coronel que veio a se tornar o primeiro barão e, depois, primeiro visconde de Guarapuava. O museu costumava ser a casa do visconde. Dentro do espaço, pode-se encontrar resquícios de uma senzala, devido ao fato de ter sido um proprietário de escravizados.

                 A Lei Áurea de 1888 marcou o fim da escravidão enquanto lei no Brasil, mas não estabeleceu medidas que pudessem amenizar suas cicatrizes o quanto fosse possível. Os escravizados conseguiram sua liberdade, mas não seus direitos. Em pequenos e grandes gestos, percebe-se que o racismo, em diferentes formas, permanece na sociedade brasileira.

                 As marcas deixadas pelo longo período de escravidão no Brasil se mostram de diversas maneiras na atualidade. Uma dessas, que pode, às vezes, passar despercebida, é a forma com a qual a história e a cultura dos negros costuma ser apagada, principalmente, quanto ao seu legado nos munícipios brasileiros.

                 Atrás da Catedral Nossa Senhora de Belém está a fachada do Clube Social Rio Branco, criado em 1935, como opção de entretenimento para as pessoas negras. Os demais clubes e outros estabelecimentos na cidade não permitiam a entrada de pessoas negras. Para que os brancos entrassem no Rio Branco, deveriam ser “de confiança”, ser verdadeiros “aliados”. No clube nasceram escolas de samba, houve festas e desfiles de carnavais para as famílias.

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Baile de Carnaval na década de 1960. Arquivo pessoal: Américo do Nascimento

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Fotos de estúdio para o Carnaval. Arquivo pessoal: Eladir da Silva Fernandes

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Jovens praticando capoeira no espaço do clube. Arquivo pessoal: Orlando Cesar da Silva

              Próximo de seu fim, o Clube Rio Branco perdeu o princípio de ser um espaço para as famílias, mas isso não apaga a importância do espaço para a história da cidade. Atualmente, o espaço se encontra em desuso e, com muita certeza, já é considerado perdido. Até agora, não foi mencionada nenhuma tentativa de registrar de alguma forma a história do lugar e colocá-la em destaque, assim como a imagem de outros espaços de Guarapuava.

Agradecimentos a Deolindo Amâncio, Cida Amâncio e Sandro Luis Fernandes.

Deolindo e Cida, casados há 67 anos, compartilharam lembranças do Clube Rio Branco.

 

Sandro compartilhou resultados de sua pesquisa sobre as memórias do clube em 2015.

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