Ana Gabriela Alves e Viviane Moreira
Aquecimento global em Guarapuava:
os desafios na agricultura
A ciência e a inovação como peça principal no estudo dos impactos causados pelas mudanças climáticas
O aquecimento global, impulsionado pela emissão de gases de efeito estufa, é uma realidade incontestável com impactos cada vez mais evidentes em todo o mundo. Em Guarapuava, município no centro-sul do Paraná, as mudanças climáticas já se manifestam de forma preocupante, como aponta o professor e pesquisador Sidnei Jadoski em seu estudo publicado no periódico Research, Society and Development (RSD).
"Até aproximadamente o início dos anos 1970 para 1980, as regiões em clima subtropical vêm passando por um ajuste climático bastante rápido", afirma Jadoski. Segundo o pesquisador, a temperatura média anual em Guarapuava aumentou 2ºC nos últimos 40 anos, o dobro da média global. O estudo da RSD confirma essa tendência de aquecimento, mostrando um aumento de 1,4°C na temperatura média do ar entre 1976 e 2018. Essa elevação, corroborada por dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), tem gerado uma série de alterações no clima local. "Nós temos redução do número de geadas evidente. As nossas médias de geadas eram seis, oito geadas fortes. Nos últimos 15 anos, claramente temos uma, nenhuma ou até três geadas consideradas fortes”.
O especialista também aponta mudanças no padrão de chuvas, com períodos de estiagem mais frequentes e chuvas intensas concentradas em um curto período de tempo. O estudo confirma a variabilidade na precipitação. Confira os gráficos produzidos durante a pesquisa do professor:
Impactos na agricultura
Essas mudanças climáticas representam um desafio significativo para a agricultura. "A tendência de aceleração do ciclo da cultura tende ao que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) vem preconizando em termos de discussão científica, que seria evitar o empobrecimento em termos constituintes dos alimentos", explica Jadoski. O aumento das temperaturas e a irregularidade das chuvas afetam o desenvolvimento das culturas, reduzem a produtividade e aumentam a vulnerabilidade a pragas e doenças. A temperatura mínima na região tem aumentado mais rapidamente do que a máxima, o que pode ter implicações importantes para o ciclo de vida das plantas e a ocorrência de eventos climáticos extremos, como geadas tardias.
Desafios para a produção de alimentos
Em escala mundial, o aquecimento global ameaça a produção de alimentos e a segurança alimentar de milhões de pessoas. O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) de 2022 indica que a produtividade de culturas importantes, como milho, trigo e arroz, pode diminuir significativamente com a irregularidade das temperaturas e dos fenômenos climáticos. O IPCC projeta que, para cada grau Celsius de aumento da temperatura global, a produtividade global média de milho pode diminuir em 7,4%, a de trigo em 6% e a de arroz em 3,2%. Além disso, eventos extremos, como secas e inundações, se tornam mais frequentes e intensos, causando perdas nas colheitas e interrupções no abastecimento. Esse é o caso do Rio Grande do Sul, que após o maior desastre climático do estado (chuvas no final de abril de 2024) ainda caminha para a recuperação.
O papel da ciência e da inovação
Diante desse cenário desafiador, a ciência e a inovação desempenham um papel fundamental na busca por soluções para mitigar os impactos do aquecimento global na agricultura. "A tendência é trabalhar justamente em cima da primeira questão: você ter a cultura de baixo carbono", exemplifica Jadoski. O desenvolvimento de cultivares mais resistentes ao calor e à seca, o uso de técnicas de manejo sustentável do solo e a adoção de tecnologias como drones para otimizar o uso de recursos são exemplos de estratégias que podem contribuir para uma agricultura mais resiliente e adaptada às mudanças climáticas. O estudo também enfatiza a importância da modelagem climática, como a utilizada no modelo Auto Regressivos Integrados de Médias Móveis (ARIMA) — ferramenta estatística usada para analisar e prever dados de séries temporais — para compreender e antecipar as mudanças no clima e ajudar no planejamento das atividades agrícolas.